Pemaneceste quinze anos em forma larval,
Três em gélida crisálida,
E agora tua metamorfose completa
A tornou vislumbrante e cálida borboleta!
Ignoro tuas idéias, senhorita butterfly
Prendo-me aos teus encantos
Enquanto prazerosos vôos me permites
Sobre teu corpo incandescente de mulher-menina
Te penetro o mistério
Em sonho ou em verdade
E teus fluidos aos meus, voluptuosos, se mesclam
Desoriento-me nas tuas sensíveis curvas
De estradas e montes mapeados por meus dedos
Atordoado admiro tuas partes, teus segredos, meu destino
Matas-me de prazer tal qual viuva-negra
A me devorar por madrugada a fio
Atas-me e me desatas em gemidos
Enlias meus sentimentos ao teu sexo
Consomes minha carne em teu fogo ardente
Envolves-me em tuas fortes flácidas flamejantes asas
Roubas-me o suspiro, o ar que respiro
E em devasso devaneio dantesco te mato
De satisfação em orgásmico amor profundo
Ofegante, mortas cai em sono singelo
Te admiro o frescor em nossa única noite...
Te tomo aos braços e deixo o lençol cair...
Ao raiar do dia, uma carta, sem data, um amor sem retorno
As borboletas deviam durar mais que um dia!
domingo, 31 de agosto de 2008
quinta-feira, 28 de agosto de 2008
Interior
Dentro dos poetas
Existe uma grande tristeza,
A tristeza de perceber e sentir
O que todos sentem sem perceber
Existe uma grande tristeza,
A tristeza de perceber e sentir
O que todos sentem sem perceber
Vazio
Vazio
É o peito em que
Fora arrancado de si
O amor que
Devera sentir
Em dia de sol
Frio
No espaço entre o que
Não há
E o que
Devera existir...
É o peito em que
Fora arrancado de si
O amor que
Devera sentir
Em dia de sol
Frio
No espaço entre o que
Não há
E o que
Devera existir...
Amigos
Renato chateado com todas as bobagens que fiz
Me diz que sempre precisei
De um pouco de atenção
Que às vezes acho que não sei quem sou,
Mas sei do que não gosto
E nos dias tão estranhos
Manuel me convida para ir embora para Pasárgada
Lá que é outra civilização
Lá a existência é uma aventura
Mas Carlinhos, logo me liga dizendo que zombo dos outros, que amo, protesto
E agora?
Então Lulu crava sua prancha na areia,
Pega o violão e canta que vê a vida melhor no futuro
Que não consegue mais lembrar
De quantas janelas se atirou,
Assim me recordo do Andrew
Minha mente está mais clara agora...
Eu não gosto do que estou vendo
Tudo o que peço é que me dê atenção
E se lembre...
Do Miltinho,
Porque amigo é coisa pra se guardar
Debaixo de sete chaves
Dentro do coração...
Me diz que sempre precisei
De um pouco de atenção
Que às vezes acho que não sei quem sou,
Mas sei do que não gosto
E nos dias tão estranhos
Manuel me convida para ir embora para Pasárgada
Lá que é outra civilização
Lá a existência é uma aventura
Mas Carlinhos, logo me liga dizendo que zombo dos outros, que amo, protesto
E agora?
Então Lulu crava sua prancha na areia,
Pega o violão e canta que vê a vida melhor no futuro
Que não consegue mais lembrar
De quantas janelas se atirou,
Assim me recordo do Andrew
Minha mente está mais clara agora...
Eu não gosto do que estou vendo
Tudo o que peço é que me dê atenção
E se lembre...
Do Miltinho,
Porque amigo é coisa pra se guardar
Debaixo de sete chaves
Dentro do coração...
Completude
Queria fazer um poema sem culpa
Fazer movimentos sintáticos sem semântica
Ser corpo sem pensamentos
E pensamentos sem o pensar
Um poema livre
De histórias e interpretações
Estar todo sem parte alguma
Nos lugares que inexistem
Poema sem linguagem
Linguagem sem motivação
Motivação sem motivo e ação
Sem símbolos, sem palavras
Apenas uma ausência
Um pleno universo...
Fazer movimentos sintáticos sem semântica
Ser corpo sem pensamentos
E pensamentos sem o pensar
Um poema livre
De histórias e interpretações
Estar todo sem parte alguma
Nos lugares que inexistem
Poema sem linguagem
Linguagem sem motivação
Motivação sem motivo e ação
Sem símbolos, sem palavras
Apenas uma ausência
Um pleno universo...
Perdas
Tenho meus dedos
Mas os anéis todos já me carregaram
Meu sorriso ainda permanece
Porque já perdi todas as lágrimas
Os caminhos certos foram os errados
Pois não sei onde foi parar a bússola do meu destino
Sozinho no mundo
Tal qual um andarilho que perdeu
Seus companheiros para esposas graciosas;
Sem mágoas, sem direção
Caminho
E se for para estar perdido
Que seja de amor pela vida...
Mas os anéis todos já me carregaram
Meu sorriso ainda permanece
Porque já perdi todas as lágrimas
Os caminhos certos foram os errados
Pois não sei onde foi parar a bússola do meu destino
Sozinho no mundo
Tal qual um andarilho que perdeu
Seus companheiros para esposas graciosas;
Sem mágoas, sem direção
Caminho
E se for para estar perdido
Que seja de amor pela vida...
Entardecer...
Eu caminhava pela rua
Quando me deparei comigo mesmo
Em diálogo com meu próprio destino
Então, um anjo tocou em meu ombro
E em silêncio me apontou o norte em minha própria
Estrada de equívocos
Chovia e meu rosto ficou manchado
De lágrimas que não eram minhas
Toquei carinhosamente em minha alva pele
E ouvi os sinos da igreja anunciando minha morte
Pensei estar sonhando, mas a dor não existia
A angústia desaparecera e a vida foi um sopro
Minhas pernas vergaram e caí tal qual uma folha de papel
Ao vento... O sol simplesmente desapareceu...
Quando me deparei comigo mesmo
Em diálogo com meu próprio destino
Então, um anjo tocou em meu ombro
E em silêncio me apontou o norte em minha própria
Estrada de equívocos
Chovia e meu rosto ficou manchado
De lágrimas que não eram minhas
Toquei carinhosamente em minha alva pele
E ouvi os sinos da igreja anunciando minha morte
Pensei estar sonhando, mas a dor não existia
A angústia desaparecera e a vida foi um sopro
Minhas pernas vergaram e caí tal qual uma folha de papel
Ao vento... O sol simplesmente desapareceu...
sábado, 23 de agosto de 2008
Perfil
Sou o dia de hoje que brilha mais intenso,
Sou o olhar e as frases de carinho e protesto dos meus alunos,
Sou o discurso do método que a todo instante se reconstitui,
Sou o amor da família e as gargalhadas dos meus afilhados,
Sou o amigo, o campanheiro fiel, o coração que acolhe aos que precisam de proteção,
Sou o profissional dedicado, o filho querido e o irmão de braço forte,
Sou o homem que pensa no amanhã quando olha para o horizonte,
Sou o intelectual e o bom papo de bar,
Sou o cinéfilo, o amante da música, das belas artes, da literatura e das fotografias que se espalham pelo quarto,
Sou o abençoado de Xangô e Iemanjá,
Sou a memória daqueles que partiram e não pude me despedir,
Sou o pedaço,
o cadarço,
a cor,
a cortesia da chuva que nutre o solo,
Sou o verso,
o reverso,
inverso,
imerso
No coração do mundo
E no silêncio da madrugada...
Sou o olhar e as frases de carinho e protesto dos meus alunos,
Sou o discurso do método que a todo instante se reconstitui,
Sou o amor da família e as gargalhadas dos meus afilhados,
Sou o amigo, o campanheiro fiel, o coração que acolhe aos que precisam de proteção,
Sou o profissional dedicado, o filho querido e o irmão de braço forte,
Sou o homem que pensa no amanhã quando olha para o horizonte,
Sou o intelectual e o bom papo de bar,
Sou o cinéfilo, o amante da música, das belas artes, da literatura e das fotografias que se espalham pelo quarto,
Sou o abençoado de Xangô e Iemanjá,
Sou a memória daqueles que partiram e não pude me despedir,
Sou o pedaço,
o cadarço,
a cor,
a cortesia da chuva que nutre o solo,
Sou o verso,
o reverso,
inverso,
imerso
No coração do mundo
E no silêncio da madrugada...
Leitura: uma obrigação, um prazer ou uma prática ao jovem contemporâneo
A modernidade tecnológica trouxe facilidades no campo das comunicações para todos nós. A cada segundo, somos bombardeados com informes, notícias, informações que podem ou não serem úteis num dado momento, porém os dados são tantos e tão variados que nossa capacidade de assimilação procura filtrar aquilo que nos interessa, e na maioria das vezes, de forma imediata, o que nos torna um tanto indolentes à prática de leituras clássicas e sadias.
Se para nós adultos, maduros e responsáveis é complicado nos dedicarmos a uma leitura clássica, devido à grande variedade de temas para ler, a uma rotina desgastante e a compromissos fatídicos que assumimos diariamente, além do acesso a uma grande quantidade de “informações” objetivas e simplificadas que nos tornam indolentes à prática de uma leitura densa e compromissada, como vê a leitura o nosso jovem, filho, aluno, já acostumado a esse processo frenético, desenfreado e midiático de receber informações?
O imediatismo do pensamento acelerado já tomou conta dos nossos alunos, das nossas casas, das nossas rotinas e se bobear até das nossas refeições, cada vez mais ricas em fast-foods. Perdoem-me a comparação, mas gosto sempre de equiparar a alimentação com a leitura, pois se somos o produto do que ingerimos por via oral, também o somos por via intelectual. Apreciar uma boa alimentação é tão importante ao corpo como apreciar uma boa leitura, uma vez que a nutrição sadia eleva as condições de funcionamento do corpo, um bom livro aumenta a capacidade de percepção, criação, raciocínio, intelecto, além de auxiliar na formação da identidade do indivíduo. Entretanto, da mesma forma em que, para se saborear uma boa comida, ela deve estar bem preparada, para se ler um bom livro clássico, o leitor também deve ser preparado para poder entendê-lo e apreciá-lo.
Contudo, o processo de leitura, ou o ensino do processo de leitura, não é algo fácil. É comum, o aluno ter a resistência inicial ao clássico literário; comentários como “lá vem aquele livro chato de novo!”, “prof, a gente não podia ler o livro da Bruna Surfistinha ou uma coisa do tipo?” são comuns. Isso acontece, dentre tantos motivos, também a uma carência de informações, já que os informes (pseudo-informações; nunca estão processadas, normalmente de cunho enfático e bombástico, utilizados pelos meios de comunicação de massas) não dão conta da totalidade que o jovem necessita e, ainda o tornam resistentes, pois ao tratar do assunto, o aluno se crê sabedor de tudo, e parar para desenvolver o tal assunto é, para ele, perder tempo. Instigar, provocar, questionar, normalmente, são boas saídas para quebrar essa barreira inicial imposta pelo jovem.
Após quebrar o muro de Berlim imposto pelo aluno ao livro clássico, surge outro problema: a leitura como obrigação e avaliação. Voltando ao nosso processo culinário, o jovem vê a leitura solicitada pelo professor como uma rúcula, uma alface ou um agrião. Ele sabe que esses vegetais fazem bem, mas se pudessem não comê-los seria bem melhor, afinal, nenhum deles tem gosto de chocolate e nunca vão ter, todavia um bom chef pode desenvolver um prato apetitoso em que esses ingredientes apareçam em certa quantidade, suficiente, para serem bem apreciados. O mesmo vale para a leitura, o professor, assim como os pais, devem propor eventos de letramento para os jovens, e isso não é tão difícil quanto parece. Basta comentar de maneira enfática sobre um dado livro tendo em vista o interesse do adolescente em questão, que ele já vai ficar interessado na obra, a contação de histórias é um outro excelente caminho, bem como estabelecer uma discussão sobre um tema que é proposto num livro em especial.
Assim, tornar a leitura obrigatória em um prazer é um processo que pode ser desencadeado por qualquer pessoa, pois somos curiosos por natureza. Se gosto de contos de fadas, por que não ler O Fantástico Mistério de Feiurinha, em que Pedro Bandeira trabalha com a desconstrução dos contos de fadas e propõe uma história interessante e moderna. Se gosto de contos, por que não ler os contos de Lygia Fagundes Telles, particularmente adoro Antes do Baile Verde, que reflete bem a questão das responsabilidades e como os jovens a encaram, e Venha Ver o Pôr-do-Sol, que possui um suspense que nos consome do início ao fim e nos aterroriza naquele “grito medonho, inumano: NÃO”. Se a poesia é o que me interessa, por que não ler os poemas concretistas dos irmãos Campos, ou os poemas de Fernando Pessoa que nos deixam perplexos e questionando tudo e todos, ou a poesia de Bocage. É claro que para isso, eu tenho que preparar o meu aluno, deixá-lo com a pulga atrás da orelha, apresentar para ele que muitos dos interesses que ele tem, estão ali esperando por ele, assim como mostrar para ele que ler um clássico não é como ler um Código da Vinci, pois o clássico exige a reflexão, e como diz Calvino: “um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer (...) que chegam até nós trazendo consigo marcas das leituras que precederam a nossa e atrás de si os traços que deixaram na cultura ou nas culturas que atravessaram”.
Quando a leitura passa a ser um prazer, ela se torna uma prática, e através dela se busca os temas e o que mais se deseja conhecer. E, mais uma vez voltando a nossa gastronomia, se temos o prazer de comer um cheese extremamente gorduroso e repleto de maionese, e o faço diariamente, meu corpo irá sentir os prejuízos disso numa possível intoxicação alimentar. Da mesma forma, se estou habituado a ler revistas de baixo teor informativo, livros de baixa qualidade literária (e de maneira alguma considero de baixo teor literário as subliteraturas dos Harry Potters, crônicas vampirescas de Anne Rice, os suspenses de Stephen King, Sidnei Sheldon ou Agatha Christie), as leituras superficiais e objetivas que propõem soluções mágicas e não instigam o processo reflexivo, mas a acomodação do pensamento, também estou sujeito a uma intoxicação intelectual.
Assim, a prática da intoxicação intelectual leva o jovem a se entregar horas a fio em frente ao computador para jogar joguinhos viciantes e, muitas vezes, violentos, perder a noção do tempo no orkut, chats, entre outros. Aí, quando o adolescente retorna ao ambiente, lembra do trabalho que tinha para fazer. Barbada! (pensa ele) basta copiar e colar, imprimir e pronto! Sequer leu o que imprimiu, sequer teve contato com aquele conteúdo intelectual que não lhe pertence, mas entrega ao professor como se lhe pertencesse. Afinal, para que ler, isso é tão chato, tem coisa melhor para fazer.
Por fim, entendo que a leitura é uma prática, é um processo, gostamos daquilo que entendemos, àquilo que somos realmente expostos e que nos faz sentido, do que nos é palpável, reconhecido e ao mesmo tempo diferente. Logo, a leitura é o alimento do intelecto e da alma. Dessa maneira, se apenas conheço a comida para intelecto fast-food, ela sempre será para mim a melhor. Agora, se for exposto a outras experiências intelecto-gastronômicas, talvez num primeiro momento estranhe, mas na medida que for apreciando essa culinária, não apenas para deixar o estômago satisfeito, mas para deliciar uma iguaria do saber, para aprender sobre uma cultura, para ter bons hábitos e para, simplesmente, nutrir o corpo e a mente, então realmente terei aprendido a ler, e a ler com sabedoria.
Se para nós adultos, maduros e responsáveis é complicado nos dedicarmos a uma leitura clássica, devido à grande variedade de temas para ler, a uma rotina desgastante e a compromissos fatídicos que assumimos diariamente, além do acesso a uma grande quantidade de “informações” objetivas e simplificadas que nos tornam indolentes à prática de uma leitura densa e compromissada, como vê a leitura o nosso jovem, filho, aluno, já acostumado a esse processo frenético, desenfreado e midiático de receber informações?
O imediatismo do pensamento acelerado já tomou conta dos nossos alunos, das nossas casas, das nossas rotinas e se bobear até das nossas refeições, cada vez mais ricas em fast-foods. Perdoem-me a comparação, mas gosto sempre de equiparar a alimentação com a leitura, pois se somos o produto do que ingerimos por via oral, também o somos por via intelectual. Apreciar uma boa alimentação é tão importante ao corpo como apreciar uma boa leitura, uma vez que a nutrição sadia eleva as condições de funcionamento do corpo, um bom livro aumenta a capacidade de percepção, criação, raciocínio, intelecto, além de auxiliar na formação da identidade do indivíduo. Entretanto, da mesma forma em que, para se saborear uma boa comida, ela deve estar bem preparada, para se ler um bom livro clássico, o leitor também deve ser preparado para poder entendê-lo e apreciá-lo.
Contudo, o processo de leitura, ou o ensino do processo de leitura, não é algo fácil. É comum, o aluno ter a resistência inicial ao clássico literário; comentários como “lá vem aquele livro chato de novo!”, “prof, a gente não podia ler o livro da Bruna Surfistinha ou uma coisa do tipo?” são comuns. Isso acontece, dentre tantos motivos, também a uma carência de informações, já que os informes (pseudo-informações; nunca estão processadas, normalmente de cunho enfático e bombástico, utilizados pelos meios de comunicação de massas) não dão conta da totalidade que o jovem necessita e, ainda o tornam resistentes, pois ao tratar do assunto, o aluno se crê sabedor de tudo, e parar para desenvolver o tal assunto é, para ele, perder tempo. Instigar, provocar, questionar, normalmente, são boas saídas para quebrar essa barreira inicial imposta pelo jovem.
Após quebrar o muro de Berlim imposto pelo aluno ao livro clássico, surge outro problema: a leitura como obrigação e avaliação. Voltando ao nosso processo culinário, o jovem vê a leitura solicitada pelo professor como uma rúcula, uma alface ou um agrião. Ele sabe que esses vegetais fazem bem, mas se pudessem não comê-los seria bem melhor, afinal, nenhum deles tem gosto de chocolate e nunca vão ter, todavia um bom chef pode desenvolver um prato apetitoso em que esses ingredientes apareçam em certa quantidade, suficiente, para serem bem apreciados. O mesmo vale para a leitura, o professor, assim como os pais, devem propor eventos de letramento para os jovens, e isso não é tão difícil quanto parece. Basta comentar de maneira enfática sobre um dado livro tendo em vista o interesse do adolescente em questão, que ele já vai ficar interessado na obra, a contação de histórias é um outro excelente caminho, bem como estabelecer uma discussão sobre um tema que é proposto num livro em especial.
Assim, tornar a leitura obrigatória em um prazer é um processo que pode ser desencadeado por qualquer pessoa, pois somos curiosos por natureza. Se gosto de contos de fadas, por que não ler O Fantástico Mistério de Feiurinha, em que Pedro Bandeira trabalha com a desconstrução dos contos de fadas e propõe uma história interessante e moderna. Se gosto de contos, por que não ler os contos de Lygia Fagundes Telles, particularmente adoro Antes do Baile Verde, que reflete bem a questão das responsabilidades e como os jovens a encaram, e Venha Ver o Pôr-do-Sol, que possui um suspense que nos consome do início ao fim e nos aterroriza naquele “grito medonho, inumano: NÃO”. Se a poesia é o que me interessa, por que não ler os poemas concretistas dos irmãos Campos, ou os poemas de Fernando Pessoa que nos deixam perplexos e questionando tudo e todos, ou a poesia de Bocage. É claro que para isso, eu tenho que preparar o meu aluno, deixá-lo com a pulga atrás da orelha, apresentar para ele que muitos dos interesses que ele tem, estão ali esperando por ele, assim como mostrar para ele que ler um clássico não é como ler um Código da Vinci, pois o clássico exige a reflexão, e como diz Calvino: “um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer (...) que chegam até nós trazendo consigo marcas das leituras que precederam a nossa e atrás de si os traços que deixaram na cultura ou nas culturas que atravessaram”.
Quando a leitura passa a ser um prazer, ela se torna uma prática, e através dela se busca os temas e o que mais se deseja conhecer. E, mais uma vez voltando a nossa gastronomia, se temos o prazer de comer um cheese extremamente gorduroso e repleto de maionese, e o faço diariamente, meu corpo irá sentir os prejuízos disso numa possível intoxicação alimentar. Da mesma forma, se estou habituado a ler revistas de baixo teor informativo, livros de baixa qualidade literária (e de maneira alguma considero de baixo teor literário as subliteraturas dos Harry Potters, crônicas vampirescas de Anne Rice, os suspenses de Stephen King, Sidnei Sheldon ou Agatha Christie), as leituras superficiais e objetivas que propõem soluções mágicas e não instigam o processo reflexivo, mas a acomodação do pensamento, também estou sujeito a uma intoxicação intelectual.
Assim, a prática da intoxicação intelectual leva o jovem a se entregar horas a fio em frente ao computador para jogar joguinhos viciantes e, muitas vezes, violentos, perder a noção do tempo no orkut, chats, entre outros. Aí, quando o adolescente retorna ao ambiente, lembra do trabalho que tinha para fazer. Barbada! (pensa ele) basta copiar e colar, imprimir e pronto! Sequer leu o que imprimiu, sequer teve contato com aquele conteúdo intelectual que não lhe pertence, mas entrega ao professor como se lhe pertencesse. Afinal, para que ler, isso é tão chato, tem coisa melhor para fazer.
Por fim, entendo que a leitura é uma prática, é um processo, gostamos daquilo que entendemos, àquilo que somos realmente expostos e que nos faz sentido, do que nos é palpável, reconhecido e ao mesmo tempo diferente. Logo, a leitura é o alimento do intelecto e da alma. Dessa maneira, se apenas conheço a comida para intelecto fast-food, ela sempre será para mim a melhor. Agora, se for exposto a outras experiências intelecto-gastronômicas, talvez num primeiro momento estranhe, mas na medida que for apreciando essa culinária, não apenas para deixar o estômago satisfeito, mas para deliciar uma iguaria do saber, para aprender sobre uma cultura, para ter bons hábitos e para, simplesmente, nutrir o corpo e a mente, então realmente terei aprendido a ler, e a ler com sabedoria.
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