domingo, 22 de novembro de 2009

Cai na Real...

Vamos deixar de pajelança
Na vida um é rei enquanto o outro dança

Essa história de que todos somos................. somos?
Iguais perante a lei................................. de quem?!
Basta olhar meus cromossomos................... de quem é igual?
Não há semelhantes
Minha arma é minha voz e......................... qual de nós?
Já sofreu o preconceito antes

Cante, defenda a diferença
O bom dessa ideia
É que a pluraridade é uma bença

Entenda a norma
Culta, sagrada, social-legislativa
Desvirtue a regra de forma positiva
Faça do uso
O lugar do desabuso
Por isso não recuso
Essa nova língua minha
Somos brasileiros do povo
E pensamos agora no novo
Não como erro, e sim como linha
É a ciência que promovo
De tolerância e de paz, chega de rinha!

Cante, defenda a diferença
O bom dessa ideia
É que a pluraridade é uma bença

Não me intitule de vulgar
Porque gigoleio a palavra pra cantar nesse lugar
Pra mim, fazer rima é respirar o ar
Poético que ensina
A vida é uma escola
E essa é minha mina
De ouro à moda de camões
Linda menina não te melindra
Vem por cima
Cisma
Veja do meu prisma
A diferença é bela, absoluta
E a variante é minha luta!

Cante, defenda a diferença
O bom dessa ideia
É que a pluraridade é uma bença

Soltando o Verbo

O problema da juventude é a memória
A gurizada quer fazer hip hop
Mas não lê, não sabe história
Querem shopping, cigarro, carro, chope

É uma questão de alienação
Seja na tevê, seja no computador
Essa falta de educação
Ainda vai matar o amor

Em 64 vivemos uma ditadura
Sob ferro e fogo fomos calados
Músicos, poetas, pensadores exilados
Veio o AI-5, rolou até tortura

Aí vem um figura
E me diz que isso é velharia
Mal sabe ele onde estaria
Se o jovem do passado não fosse politizado
Pra lutar contra toda opressão
Do governo militarizado
Que calava o povo e o deixava sem opção

Em 88 veio a abertura
Chegaram as diretas já na gritaria
Era a redenção ou apenas parecia?
A escola e o professor foram alijados
Chegou a liberdade de expressão
E que dela fazer? Jovens obnubilados
Adolescentes sem ação

O que fazer agora?
Vamos lutar contra essa morosidade
Já tá na hora
De crescermos na mente e não só na idade

E se cê não gosta do meu tom
Começa a se ligar
Minha palavra é o meu som
E ela vai atormentar

Eu não me entrego
Minha luta eu não nego
Eu pego e mostro os fatos
Nós somos homens ou somos ratos?

sábado, 21 de novembro de 2009

Agora Chega! (hip hop)

Brô, tô cansado dessa vida
São manos sequelados
Por todos os lados
É fogo, é roubo, é bala perdida
Não curto esse jogo,
Pois logo
Uma morte é certa
Sempre há
Quem o gatilho aperta
Rogo, não nego
Pela alma do coitado
Por um boné foi matado
No estouro de um prego!

Morta é a condição do sujeito,
Predicado simplificado
Nesse mundo sem respeito
Por um piá de menor
O ato foi feito
E o que é pior
Ele nem tá em cana
Vive na janela
Da risada e me abana

Brô, tô bolado co'a justiça
No latim, a rima é laetitia
Mas quando mano se atiça
Dois estouros, peito de touro, chumbo no couro
Junta-pés de gentil
É a segurança na ponta do fuzil
Advogado
Porta de cadeia
X9
Que resolve a peleia
Ei, habeas corpus
Malandro tá na rua
Protegido pelos porcos

Brô, isso é descaso,
Caso sem acaso
Sem data, sem prazo
Injustiça na cabeça
Então não se esqueça
Se liga, abre o olho
Ou cê vai levá pipoco
Do berro nos cocos
Todos homens ocos
Sem esperanças
Não somos mais crianças!

Brô, vê se entende agora essa
No mundo ao qual pertenço
A morte não tem pressa
Minha fala
Pode ter bom-senso
No crime
Garoto é homem tenso
Que rouba, que mata,
Que pira intenso

Brô, não se cala
Mostra sua rima
Expressa sua fala,
O verso inteligente
Vem de dentro da gente
É uma fome, uma voz
É uma vibe dentro de nós
E ela não para
Ela grita, enfeitiça
Chega de injustiça!

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

É Preciso Estudar (hip hop)

Pô, não me vem com essa
De que no hip hop malandro é que rapeiro,
Na rima pobre, cê não é o primeiro
O estudo é que atesta. Mano, vê se não estressa

A aula tá rolando, cê tá rebolando
O ano tá passando, cê ainda tá rodando!?!

Acorda pra vida
Eu sô prof e meu rap é maneiro
Minha rica rima é despida
Da banalidade tosca
Que mané vive dia inteiro
Na frente da tevê
Atolado feito mosca
Esperando pra sabê
O fim da novela
Se quem morre é ele ou ela
Mas quem morre é você!

A aula tá rolando, cê tá rebolando
O ano tá passando, cê ainda tá rodando!?!

Tira da cadeira essa bunda
Estuda pra sê gente
Tira da cabeça a voz imunda
Que não faz de você alguém decente

Vamos, siga em frente
Eu sei que é difícil
Estudá pra tê ofício
De magnata rico e inteligente

Mas nada é impossível quando se qué
A vida passa e é apenas uma só
No estudo, a rima no coco chega a dá nó
Faz o que é certo ou, então, cê vai continuá mané!

Eu Faço Rima (Hip Hop)

Eu faço rima
Porque gosto de cantar
Na vida eu sempre tô por cima
Esse é o meu lugar

A tristeza bate quando vejo um mano
Jogado pelos cantos, insano,
A se drogar

Pesadas lágrimas, salgadas, como o mar
Esse é o meu pranto, meu canto
Sincero ao rimar

Eu amo a vida
E a ela quero celebrar
Seja esperto, não caia nessa estrada
Porque o caminho é só de ida...
Ame a si mesmo, deixa de roubada
Drogas, tô fora! Mano, volta para o lar!

Eu faço rima, se atina
E tô aqui pra te falar
Seja esperto, a droga é cretina
E ela pode te matar!

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Enquanto

As altas horas têm o poder
De manifestar minha tristeza
O sono perturbado acorda
E em monólogo discute a relação

Seria melhor fugir
Ou jogar pedrinhas no rio
O coração se emociona
A razão fala irracional e desmedida
E já não sei onde estou...

Seria melhor entre as estrelas
Lá estaria bem longe de mim
Meu sono voltaria a dormir vendo a lua
E os sonhos poderiam pela rua voltar do bar
E entrarem pela porta da frente de casa correndo
Felizes por estarem aqui tão perto...

Tão perto de si
Mesmo em mim
Assim...

Insone

A que horas vem o sono?
Cansado de esperar pelo atrasado
Fecho os olhos e esqueço de ficar acordado...

Perdas

Acordo no meio da noite
Nada além do silêncio
Sentimentos confusos falam atropelados
E ninguém para abraçar, para me socorrer

Procuro o respirar mais profundo,
Encaro o vazio do espelho na parede do quarto
Sofrimento, saudade, solidão
Sinônimos nas minhas perdas

Pego o violão e bato acordes agitados
Choro as letras das músicas
Aquela voz parece perdida eternamente

Ninguém mais trará a luz no café da manhã
E as lágrimas morrem num sorriso tímido
Caladas, pálidas, calmas, partidas...

domingo, 15 de novembro de 2009

Pleonasmos

Odeio o exagero de lhe dizer 1 milhão de vezes que a amo,
Parece que gratuitamente ganha tudo o que lhe dou.
E quanto mais a incluo dentro do meu coração,
Mais sou excluído para fora do seu...

Estou perdido por estar perdidamente apaixonado
Pela paixão que já posso ter perdido sem saber onde.
E quanto mais brigo para mantê-la sem brigas,
As brigas mais nos distanciam a longas distâncias...

Que fazer para refazer o amor?
Se o beijo do sorriso da tua boca ora é um enigma,
Ora é um incompreensível e ambíguo mistério...

Então, declaro com todas as palavras que posso dizer
Que desde que a vi com meu próprios olhos
Me apaixonei pelo pleonasmo da redundância desse amor...

Apaixonar-se

Eu tomei da fórmula
Quando distraído a vi
Sorrir sem aparentes razões

Eu tomei
Ao não perceber o quanto
Olhar são insolentes olhares

Eu
A percebi humilde e bela e cativante
Temer por lhe falar agora estou

Da fórmula tomei eu
Quando por um instante a percebi
Estar disposta a ser meu amor...

Versos Oblíquos

As ruas caminham sob meus pés
As janelas olham silenciosas
Os carros dirigem garotos homens
Os homens estudam a escola da vida

Os filhos ganham mães no primeiro abrir dos olhos
As avenidas correm sob meus olhos
Os alunos ensinam a aprender
As escolas aprendem a não ensinar

As músicas são vistas pelo meu coração
Os beijos são bebidas de paixões bêbadas
As estrelas apagam na hora de dormir

Os dias começam nas noites insones
As verdades nossas estão tão distantes da verdade
Os versos servem para o que mesmo?

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Acordes

Ligo o rádio do meu carro
As ruas desertas apresentam ideias
Opções são sintonias sobre o amor
Sigo para a Cidade Baixa
É noite do prazer e
Eu quero é me apaixonar
Fazer sentidos
Tocar
Assaltar o coração perdido presente
Deixar rolar a madrugada na química
Mímica anímica de mãos bobas
São acordes de elegância
Piscadelas e declarações de amor eterno
Se a música não toca
Silêncio
Boca a boca sigo pela respiração da garota
Salivas sinceras satisfeitas
Se rosas caíssem cairia eu naquela maravilha de armadilha
Eu sempre soube que fui feito fogo
Para derreter no amor por horas
São sussurros soando sintonizados
Corpo a corpo sigo pela a estrada da menina
Desejos carnais em vendavais beijos
Eu me consumo
Meus pés seguem acelerando cantando deslizando por sobre o lençol
Amanhecido meus acordes acordam a cor do pecado
Ligo o carro do rádio emudecido
Silenciosos Sentidos
Sentimentos sentidos em sentido duplo
Olhar separação música momento fim

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Sabor...

Noite quente
fria irreverente mente
sempre pra descontente gente
ente perto longe e que tente
mesmo ausente ser serpente presente
insolente vidente carente e que sente
muito pouco quase nada tudo em ti
si mais ou menos nos nós rentes imprudentes
de dentes salientes em boca sorridente em temente
amor mortal alcantilado lado a lado do dormente
céu escuro puro sabor de boite caliente...

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Coisas da Natureza

Que venha a mim o mar

e remova, sim, a areia.

Num baque seco que a orla tateia,

espumas sem eco a flutuar


Um caranguejo, então, se esconde

enquanto vejo ondas bravas

se formarem onde

o ar em ciclone abraçava as

correntes num forte laçaço d’água fria.

De repente, do norte, ela se ergueu,

minha vista embaralha, não acreditava no que via,

era uma aquosa muralha que tocava o céu.


Veloz feito raio varreu

a praia de um jeito terrível,

e todo paraíso que um dia foi meu

sumiu liso, devastado, por uma fúria sem nível!


sábado, 3 de outubro de 2009

Amálgama

O sexo é o amálgama
De corpos que combinam fluidos
E trocam intimidades,
É a profusão caótica e selvagem
Que libera libido latente
Pelo suor mesclado ao orgásmico
Suspiro dos poros púrpuros
De constante atrito das energias que explodem
Em estrondos estridentes, gemidos ardentes,
Frutos de implosivos prazeres lascivos...
O sexo é vida e morte, devorar e plantar,
É verdade e entrega, mesmo de quem nega
O sabor do pecado amado pela
Penetração dos mistérios do corpo
E suavidade suada da alma...

Petulância

O amor é egoísta,
Quer tudo para si e nunca está contente
É tão petulante e exigente
Que além de desejar em demasia
Ainda impõe a vontade de ser amado...
Amar e ser amado... duas individualidades imperfeitas
E incompletas até em suas incompletudes...

Provérbio

Se quem ama o feio, bonito lhe parece;
O que lhe parece o bonito,
Quando ama?

Amor Coca-Cola

Amor Coca-Cola é cheio de pressão,
É tenso quando hermeticamente lacrado,
Quando se abre para o mundo logo borbulha,
Chia e quase estoura, quando não estoura o coração,
Transborda, espuma, faz frisantes sorrisos faceiros.
Depois se acalma, deixa o gás escapar, sair para o ar,
Esquenta e esfria, fica sem graça, água oca,
Que desbota tal qual choca-coca

sábado, 6 de junho de 2009

Um Poema Irreverente

Meu irreverente lado parnasiano
insiste em rimar o nada com piano!
Tudo tinha qu’estar sempre na forma,
pois ao amor o sentido deforma.

Mas meu coração romântico
canta um movimento só:
um harmônico semântico,
qu’explode as notas em dó e

qu’inspira a poesia d’amor,
pois os versos qu’amam são
tal doce composição.

Se a paixão vem'em redondilha maior,
os decassílabos servem então
par'o coração sentir-se melhor!

Momento

No amor não são relevantes
Os pronomes interrogativos: onde? e como?
O importante é o agora

Mulher

Toda mulher é uma poesia

Não escrita e não recitada

Apenas moldada em carne fina,

Alguns têm a graça de desvendar-lhes

O mistério

De serem todas em apenas uma

Paixão

São pensamentos fúteis
A chuva encharcou as lágrimas
Que caíram sobre o cobertor

Homens

Somos os abutres
Que se alimentam
Das vísceras do mundo...

Poetas

O inferno vai ter que esperar
Os poetas não morrem
Vivem enterrados nas estantes

Passageiros da Vida - Felipe Anicet e Alexandre Djorkaeff

Era uma fria noite de inverno e eu estava voltando para casa. Tinha tido um dia corrido. Apesar de amar o que faço, estou receoso com meu futuro. Não sei se o que ganho como professor condiz com o esforço que fiz para chegar até aqui. Leciono desde muito jovem, uma vez que tinha que ajudar financeiramente lá em casa. Vai ver é por isso que não tive tempo para me qualificar o quanto sempre desejei.

Meu carro estava estragado, então andava com o do meu irmão. Todo cuidado era pouco, pois não parava de chover. Quando cheguei à avenida principal, deparei-me com um engarrafamento gigantesco e já comecei a me estressar. O tempo não passava. Não agüentava mais esperar, quando lembrei, então, que haveria um jantar com a família da minha mulher; era o aniversário do meu cunhado. Só de pensar em todos reunidos lá em casa já me dava mais dor de cabeça.

De repente, sinto uma batida atrás do carro. Não poderia ser verdade! Uma daquelas camionetes SUV tinha dado uma encostada em mim, o suficiente para dar aquela amassada. Pronto, o mundo tinha definitivamente acabado! Meu irmão iria me matar! Eu fiquei enfurecido e todos os xingamentos possíveis vieram à cabeça.

Olhei para trás tentando encontrar o culpado pela minha, já certa, morte espiritual e financeira. Apesar da forte chuva e de já estar escuro, o que vi foram alguns homens querendo falar com o motorista do carrão. Fiquei mais calmo então, vai ver era a polícia ou os fiscais de trânsito que resolveram agir rápidos, contudo, algo estranho aconteceu: um dos homens, o maior deles e que usava farda da polícia, tirou uma pistola e apontou para o motorista da SUV. Bateu aquele frio na barriga. Claro! Como não tinha percebido antes: eram assaltantes e eu me tornara a testemunha ocular. Que grande merda essa em que eu me meti! Pensei, então, no que poderia fazer, mas me senti impotente. Entre o dono da SUV e eu, que seja ele, pelo menos tinha mais dinheiro e deveria ter seguro contra roubo. Vendo a relutância daquele motorista em entregar os bens, comecei a sentir pena do, agora, apenas, dono do carro detrás.

Estava muito nervoso. Para mim, não existia mais jantar e muito menos dor de cabeça. Fiquei imaginando o que passava na cabeça do proprietário do carrão. Certamente ele estaria mais preocupado do que eu. Seria dele mesmo o carro? Meu Deus! E se ele também tivesse pegado emprestado do irmão, ou do patrão, ou...? E se os assaltantes levassem o carro com o motorista junto, o que aconteceria? Bom, azar dele, pois ninguém mandou desfilar na rua de carrão, muito menos mandou bater na traseira do meu. Droga, que pensamento esse meu, eu não sou tão mesquinho assim. Acho que se não o seqüestrarem, eu até dou uma carona pra ele.

Não sabia quanto tempo já havia passado. Poderia ter sido uma hora ou apenas dez minutos, ou os dois, quem sabe... Não importava agora. Então ouvi três – não! – quatro tiros. Um silêncio mortal invadiu o ambiente. Ninguém se mexia e só era possível ouvir o som da chuva. Ele estaria morto? Ele estava mesmo morto! Meu Deus, que horror, será que agora eles virão até mim? Matar também a testemunha do crime? Não...

Os bandidos fugiram rapidamente. Fiquei pálido e não quis ir embora, logo a ambulância chegou, alguém deve ter ligado para a emergência; tiraram da SUV a vítima, um rapaz de uns vinte e cinco ou trinta anos, todo ensangüentado. Acho que o disparo acertou o pescoço, da onde estava não tinha uma visão tão privilegiada assim. Dei meu depoimento. Pelo menos teria uma desculpa para não ficar com os familiares insuportáveis de minha esposa. Nunca mais soube notícias do evento ou dos bandidos, nem sequer achei alguma nota nos jornais a respeito.

Antes de regressar para casa, ainda olhei a chuva que caía. Surtei daquela realidade. O que realmente faz sentido para mim? O que realmente importa nessa vida? Voltei a mim e condenei minha impotência e mesquinhez. Fiquei imaginando se tivesse sido comigo, como ficariam meus familiares e amigos?!. Percebi, finalmente, o real valor da cena que acabará de presenciar. Não sei se aquele rapaz tinha família, mas se tivesse, esse seria, com certeza, um dos momentos mais difíceis e dolorosos que os familiares teriam que passar. Decidi ir para casa logo, necessitava do aconchego da minha esposa e dos meus filhos. A tomar pelo horário, já estariam todos lá em casa festejando o aniversário de meu cunhado. Então, bati a chave do carro e fui para casa, antes, porém, dei uma breve passada no shopping para lhe comprar um presente, lógico que algo barato. Afinal, a vida não está fácil...

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Relação Platônica

Se teu amor é uma mentira
Por que tanto minha vaidade te quer?
Ou sou um tolo perante essa mulher
Ou gosto quando do sério ela me tira.

Já te fiz mil poesias de sexo
Já te virei do avesso no desejo
Mas, nessa relação, eu não me vejo
Porque o teu avesso travesso me deixou perplexo.

Sempre fui humilde, nunca tive mais de três mulheres,
E é tu pequena foguenta
Quem me dá o fora e não me queres!

Não sei se te pego, se te bato, se te ponho de quatro;
A questão é que sem ti meu coração não aguenta...
Agora, como eu faço para que saias deste retrato?

Triângulo Amoroso

Eu a amei
Tu me amaste
Ela te amou
Nós nos amamos
Vós vos amastes
Elas se amaram

E eu me danei...

Olhar 43

Quieto
Tal qual bicho do mato à espreita
Da presa presa no arame farpado

terça-feira, 10 de março de 2009

Santo Direito

Já nasci condenado
Minha vida é um inferno
O meu crime é o pecado
O diabo é meu advogado
O Salvador é o juiz que bate o martelo
A promotoria entrou em recesso
O habeas corpus foi negado
A lei deve ser cumprida
O juri conspurcou os autos
A sentença é perpétua
A pena é de morte
A apelação caiu na mão do estagiário
Deus que é brasileiro está de férias no Caribe
A decisão está lavrada
O réu em penitência pede clemência
O carrasco desce o machado
Dante chama Caronte
Agora tô ferrado!
Tudo por culpa de uma mordida na maçã errada...

Pedido

Quem me dera,
Ele transformasse as estrelas
Em princesas a dançar no universo,
E me permitisse desposar ao menos
Uma delas
Para que do alto, eu pudesse iluminar
Os poetas que sonham
Quando miram o céu enamorados;
Assim, talvez, eu seria Ele
Na capacidade de transformar
A beleza que é uni
Em simples verso...

Os 10 Mandamentos

I

O amor é mesmo irreverente
Quanto menos se ama
Mais se tem para amar...

II

Sou grato pela linha direta
Sempre que chamo por Ele
Nunca ouço: “ Não foi possível completar esta ligação”...

III

O descanso é uma invenção divina
Mundana é a criação do Big Boss
Que selou o descanso permanente...

IV

Os pais nunca entendem,
Quando filhos, nunca foram entendidos;
Não entendo por que filhos se tornam pais...

V

Matar só é pecado
Quando a morte matada não é
De felicidade...

VI

Quem come a galinha flambada do vizinho
Corre o risco de ter o lombo tostado
Na churrasqueira do capeta...

VII

Na Câmara e no Senado não há religiosos
Que religiosamente não contribuem
Com o dízimo público em conta particular...

VIII

A mentira foi criada
No dia em que o homem aprendeu
Que podia falar...

IX

A inveja é mesmo algo dos infernos
Chega até causar catarata lato sensu
No único olho que não enxerga...

X

Como não desejar a mulher de outrem
Se essa só está feliz quando desejada por outro
Cuja mulher também deseja outrem...

Origem

Ainda bem que o hai-kai é oriundo do Japão
Se fosse invenção portuguesa
Tinha virado piada...

O Sono

Após a morte
O cadáver sempre ressuscita
Em algumas horas...

Nascimento

A dilatação é algo impressionante
Somos denotativamente escarrados
Por uma boca sem dentes...

Meu Coração

Meu coração tão singelo,
Tão calmo, tão tranqüilo
Se lançou em frente a um furacão
Chamado amor

E o amor o lançou tão longe e distante de tudo,
Que tudo perdeu o sentido
Que o sentido de perder se fez tudo

Perdido coração, fraco e triste,
Machucado, dilacerado, esfacelado,
Que não mais agüenta
Tua ausência
Que me mata, me sepulta e me destoa

Não há saídas, não há caminhos para voltar
Há dor, há saudade até daquilo que nunca tive

Meu coração singelo
Que sente a falta que faz o sangue que por ele corre
Inebriado de insensatez
Se lançou em frente a um furacão
Chamado amor

E o amor o fez parar...

Madrigal

Apenas canto no chuveiro
As paredes que fingem não escutar
Nunca reclamam da afinação...

As Quatro Estações

Outono

Ah, doce mulher na flor da maturidade
Uva que se metamorfosea, fino vinho
O tempo faz maravilhas sempre que sopra...


Inverno

A janela insiste em anunciar
Visita indesejada a bater
Chuva de pétalas vermelhas...


Primavera

Linda menina mulher a desabrochar
Embora as orquídeas seduzam o vento
Os beija-flores se apaixonam pelas rosas...


Verão

Canta o arco-íris no jardim
Flores anunciam a vida
É tempo da alegria...

Homicídio Concedido

Sou um suicida gentil
Em vez de apertar o gatilho
Fumo um maço de cigarros

Frases Perfeitas

As frases perfeitas são acontecimentos,
Sonhos, divagações silenciosas, de deuses acostumados a assoviar
Para, ante e contra o vento, a ventania, o vendaval do vendedor
De esperanças perdidas numa sopa de letrinhas.

As frases perfeitas são uma, a unidade atômica;
A reação em cadeia de sons, significados e instintos
Em cogumelo de expressão poética, viceral e anatômica
Sussurrada forma formativamente informada, transformada em nada.

As frases perfeitas não existem
Para ser ditas, escritas ou transcritas.
Elas não são lúcidas...

As frases perfeitas são o momento entre dois pontos
De vista que se cruzam andando pela rua;
Nascem de olhares fixos e ali eternas permanecem!

El Tiempo

Lo que es eso que pasa?
Y repasa en sólo un rato
Traspasa y medido es
Convencionado
Convencido
De que al gañador de la pelea
La vida pasa a sonreir
Pasado
En pasado
Absoluto en un sólo rato
Eso es lo que envellece
Lo que no mata ahora
Sin embargo a los pocos
Y pasa
Y repasa
Y traspasa
Eso que llamo de paso
De pasado
De presente
De espera
De memoria
Lo que es eso?
Lo que es...

Detalhes

Cristhy é a mais bela
Afrodite contemporânea
De pomo e falo de Adão...

Cuidados

Todo homem deveria

Tratar uma mulher como uma dama

E a dama na cama como uma mulher

Contrato

Sexo é prazer
Antes do casamento,
Após é compromisso legal...

Comédia Divina

Deus fez a mulher e a perfeição de suas curvas
O diabo fez a cabeça da coitada
E o homem que é um jumento clandestino
Casa com a beleza divina
E leva para casa uma diaba...

Chateação

É pena as rãs não terem asas
Se aladas fossem
Ótima seria a fundada nessas pererecas voadoras...

Caos

A empregada arrumou a casa
Lá se vai mais uma hora
À procura das minhas chaves...

Beleza

É noite em Imbé
As estrelas iluminam
As ondas mergulhando na Lua

Aquisição

A morte é um bem adquirido
Quando a recebemos
Para sempre dormimos tranquilos...

Aparências

Tudo me parece tão pouco
Que a imensidão é quase nada
E a solidão é a companhia que fica

Tudo me parece tão lento
Que a velocidade é a subtração de estáticas
E as fotos são os esquecimentos lembrados

Tudo me parece tão envelhecido
Que a juventude é a mesmice de equívocos inexperientes
E os museus ainda mantêm as grandes novidades

Tudo me parece tão comum
Que o incomum morreu de morte matada
E a morte morrida é a novidade solitária para ser esquecida

Tudo me parece tão real
Que o irreal é a verdadeira realidade
E o sonho não é passageiro

Tudo me parece tão aparente
Que o não aparente é contra-parente transparente do que é ausente
E o ser deixou essa vida parecer para aparecer...

Funcionalismo

A morte é um estágio
Permanente e não probatório
Da função de defunto...

(sem título)

A morte é a fração de segundo

de uma eternidade

que pediu para nascer...

A Caixa

A vida é um flash dentro da caixa
de Pandora, uma fagulha no caos
Nosso tempo é a flama do isqueiro
O piscar de um olhar despreocupado
Nosso momento é o ventar pelos galhos
da vida, do tempo, do amor
O bater de asas de uma borboleta
por mares nunca d'antes navegados
Nossa arte é o equívoco e o aprendizado
É o amor em desamor
O encontro e o desencontro
É ser sol e lua e viver em constante eclipse
Nossa arte é sermos humanos:
Belos, imperfeitos e mortais...