domingo, 7 de setembro de 2008

A Festa da Loucura – Anônimo (versão de Alexandre Velho)

Numa bela tarde, a Loucura resolveu convidar seus amigos para tomarem um chá em sua casa. Como visitar a Loucura era sempre algo imprevisível e cheio de novas emoções, todos aceitaram.
A primeira a chegar foi a Pressa que, apressada em sair de casa, chegou a vestir um pé de cada calçado e uma meia de cor diferente da outra. Em seguida, chegaram os demais convidados e todos se sentaram à mesa para degustar o maravilhoso chá da Loucura.
Após tomarem o chá, a Loucura propôs:
- Vamos brincar de esconde-esconde?
- Que brincadeira é essa? – perguntou curiosa a Curiosidade.
- É uma brincadeira em que um conta até cem e os demais se escondem, e o primeiro a ser encontrado por aquele que estava contando, torna-se o próximo a contar. – Respondeu a sábia Sabedoria.
Todos gostaram da idéia de brincar de esconde-esconde e aceitaram participar, a exceção do Medo, que ficou com medo de não ser encontrado nunca, jamais, e preferiu ficar sentado tomando chá de Camomila para acalmar seus nervos nervosos.
- 1, 2, 3, 5 menos 1, 7 menos 2, 8 menos 3 mais 1... – Começou a contar a Loucura.
Mal a contagem se iniciou, a Pressa, apressadamente, saiu atropelando todo mundo e acabou por derrubar a Preguiça, que preguiçosamente ficou com preguiça de levantar-se e resolveu dormir ali mesmo. A Pressa, então, se escondeu no primeiro lugar que achou, bem ao lado do Desleixo, e ambos sequer perceberam que seus pés ficaram aparecendo por debaixo da cortina.
A Timidez, tímida como sempre, tapou-se de vergonha e resolveu esconder-se na copa da árvore mais alta. A Alegria, alegre como uma andorinha a voar, resolveu ficar a correr pelo jardim. A Inveja não pensou duas vezes e resolveu ficar embaixo de uma grande pedra, junto com o Triunfo. E a Tristeza começou a chorar, porque não encontrava nenhum lugar apropriado para se esconder.
O Desespero desesperou-se quando ouviu a Loucura gritando contar:
- Noventa e nove, cem! Aí vou eeeeuuuuu...
Quando a Loucura se virou para procurar seus amigos, acabou por tropeçar na Preguiça que preguiçosamente dormia feito um bebê a roncar.
- Ah, Preguiçaaaa. Não quiseste te esconder? – Perguntou a Loucura
Mas, a Preguiça, preguiçosa como sempre, não respondeu.
- Lá vou eeeeuuuu... – Gritou novamente a Loucura para avisar aos demais que agora ia sair a procurá-los.
Mal a Loucura terminou de gritar, apareceu a Curiosidade, que curiosa para saber quem seria o próximo a contar, não agüentou esperar e resolveu vir perguntar. Em seguida, veio correndo do jardim a Alegria, feliz da vida, porque ela não tinha sido a primeira a ser encontrada. A Tristeza veio logo atrás, chorando por não ter sido a primeira a ser encontrada, mesmo não tendo encontrado lugar algum para se esconder. E assim, um a um foram aparecendo os amigos da Loucura.
A Loucura ao olhar para o lado, ainda, avistou a Dúvida, em cima do muro, tentando decidir por qual lado ia descer. A Timidez quase morreu envergonhada quando a Loucura disse que ela já podia descobrir o rosto de vergonha e descer do alto da árvore.
Quando todos já estavam reunidos, a Loucura, doida e espevitada como sempre, percebeu que o Amor tinha sumido.
- Onde está o Amor? – Perguntou a Loucura.
Entretanto, ninguém o tinha visto. Então, a Loucura enlouquecida com a Preocupação, que não parava de falar em desgraças, resolveu ir sozinha procurar o Amor perdido.
A Loucura procurou em cima das montanhas, dentro dos rios e dos mares, no meio das nuvens, debaixo das pedras que haviam no meio do caminho, no meio da floresta e do algodão-doce. Mas, nada do Amor aparecer. Então, a Loucura resolveu pegar uma varinha de marmelo e cutucar uma roseira que havia em seu jardim para ver se encontrava uma onça com a vara curta.
Contudo, de dentro da roseira se ouviu um grito de dor:
- Aiiiiiiiiii!
Era o Amor. Ele gritou, porque ao ser cutucado com a vara curta da Loucura, acabou por furar os olhos nos acúleos das rosas da roseira.
A Loucura não sabia o que fazer ao ver o Amor machucado. Pediu desculpas, implorou pelo perdão do Amor, e prometeu que ia servi-lo e acompanhá-lo para todo o sempre e em todo e qualquer lugar aonde o Amor fosse.
O Amor, amável como sempre, aceitou as desculpas da Loucura.
Desde então até hoje, o Amor é cego e a Loucura sempre o acompanha!

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