sábado, 13 de dezembro de 2008

Eu queria...

Eu queria que aquele velho amor
Um dia voltasse novo,
Reciclado pelo de novo,
Com gostinho de livro usado...

Queria que esse amor
Chegasse pertinho, juntinho, fizesse “psiu!”
Então, sorrindo deixasse o riso
Na boca minha, e quietinho fosse dormir.

E quietinha e quentinha esquentasse e molhasse
Os lábios meus com seus encantos de princesa;
Eu queria que esse novo velho amor

Um dia ficasse velho com gostinho de novidade
E fosse eterno, terno, moderno, único e de verdade!
Ah, como eu queria! E como queria esse amor naftalina...

Egoísmo

O egoísmo é amar,
Amar tão perdidamente,
Que o amor nem sabe que é amado

O egoísmo é amar,
Amar tão profundamente,
Que o amor, afogado, morreu há 10 segundos

O egoísmo é amar,
Amar tão intensamente,
Que o amor e o desamor brigam, e depois se beijam

O egoísmo é amar,
Amar tão sexualmente,
Que o amor é fogo que arde sem se ver, e sempre queima

O egoísmo é amar,
Amar tão ilusoriamente,
Que o amor ama, ama, ama amando sempre sozinho

O egoísmo é amar,
Amar tão egoísticamente,
Que o amor, de tanto amor, egoísta ficou!

Pálido Silêncio

As palavras são a negação
Do que é silenciado,
A palidez sopra as cortinas
Sobre as paredes do quarto.

As palavras são as cortinas
Do que é silenciado,
A palidez sopra a negação
Sobre as paredes do quarto.

As palavras são as paredes do quarto
Sobre a negação,
A palidez sopra o que é silenciado!

As palavras são a palidez
Do que é negaciado
As cortinas sopram, sempre, o silêncio das paredes do quarto...

Pesares

Apesar de toda a felicidade que sinto
Hoje
Vou dormir triste
Porque infelizmente
A felicidade nunca é completa...

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Concreta Abstração

Einsten e todos os outros físicos e matemáticos que me desculpem,
mas por que um mais um necessariamente tem que ser dois?
Quando, no intenso do amor, o resultado é pelo menos o três!

Língua Portuguesa

Se a língua é o que nos une,
então, quem é essa
que lingüisticamente nos separa?!

À Vã Filosofia

O segundo é a fração infinita
do espaço de tempo compreendido,
repreendido, fingido de desentendido
no não-tempo entre o antes, o depois
e o agora...

E o agora já se foi!

Inspiração

A inspiração é o sopro
do pum do poeta
em desarranjo intelectual...

...

A morte é a fração de segundo
de uma eternidade
que pediu para nascer...

Aparências

Tudo me parece tão pouco
Que a imensidão é quase nada
E a solidão é a companhia que fica

Tudo me parece tão lento
Que a velocidade é a subtração de estáticas
E as fotos são os esquecimentos lembrados

Tudo me parece tão envelhecido
Que a juventude é a mesmice de equívocos inexperientes
E os museus ainda mantém as grandes novidades

Tudo me parece tão comum
Que o incomum morreu de morte matada
E a morte morrida é a novidade solitária para ser esquecida

Tudo me parece tão real
Que o irreal é a verdadeira realidade
E o sonho não é passageiro

Tudo me parece tão aparente
Que o não aparente é contra-parente transparente do que é ausente
E o ser deixou essa vida parecer para aparecer...

Das Coisas Que Eu Entendo

Eu queria entender
Das coisas que eu não entendo
Eu queria falar
As coisas que nunca tive coragem
De dizer as pessoas
Que eu amo
Talvez eu precise
De toda uma outra vida
Para consertar os erros
Que cometi nesta vida inteira
E foram tão poucos os anos que vivi
E foram tantos os erros que cometi
Eu queria poder ouvir as estrelas
Que no silêncio da noite
Sussurram suspiros suspeitos
Eu queria fazer
Tudo que capacidades me faltam
Eu queria sorrir
Mesmo quando pudesse chorar
Eu queria só rir
De tudo, de todos e de mim mesmo
Até que enfim
No fim do infinito
Todo o universo deixasse de ser
Apenas o meu universo
Preso num verso
De início, meio
E final imperfeito
Sujeito as alterações do destino
Das coisas que eu entendo
Incompletas, inacabadas
Pelas coisas que eu não entendo
E deveria entender
Para que os sentimentos
Sentidos fizessem
P´ra mim...

terça-feira, 18 de novembro de 2008

O Som do Coração

Ouço o vento a me falar
Que dias melhores virão;
Sinto o penetrante do sol no ar
E a luz a me mostrar a direção.

Esqueço o tempo no a-tempo do sonho
Mudo os sons de lugar;
Perco-me nas músicas que disponho
E deixo a voz alegre a cantar...

Para que todos escutem as notas e o mi bemol
Que a luz do pôr-do-sol
Emana como canção.

São os sons que harmonizarão
Os dias e as noites do meu rol
De palavras inexatas vindas do coração...

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Unforgiven

Eu percorri os caminhos que diziam
Levar ao centro do teu coração,
Mas teus olhos não mais luziam,
E, assim, me perdi no meio desta escuridão

Tateio o negro do céu sem estrelas,
Sem rimas ricas e sem músicas belas
Os fósforos parecem que se molharam agora
Nas lágrimas que o firmamento chora

E na tristeza de te ver ir embora
Me afogo nas palavras que engasgam a canção
Que diz: “não mais poderei tê-la”

Pois teu medo de viver corrobora
Para que eu não possa viver a verdadeira paixão...
Hoje teu obscuro sopro apagou minha única vela!

sábado, 20 de setembro de 2008

Mulheres

Ah, mulheres frágeis, espertas
Que em beijos fogosos me enlouquecem,
Quando entre suas coxas me aquecem...

Ah, libido que me desperta
Os cuidados seios de Fernanda,
Dunas cálidas ensolaradas por mim mordiscadas,
Ilha equatorial de amores és doce Vanda!

Oh, luzentes amadas
De dias mórbidos, mesclados, maculados ou quentes
Descansem sobre minha cama
Em deleite tropicaliente de virgens sementes
Que rego em noites serenas ao colo de Sandra

Oh, singelas donzelas de traços firmes
As quero, as guardo, as clamo...
Bem sabe a bela Florbela que me ama
O quão açucarada se faz esta trama
Que dos glúteos ebúrneos de doirada Cassandra
Saciei sonhos de mel e fel

E mesmo a essas sendo fiel,
Nunca me dediquei a nenhuma
Será que há como amar a alguma?
Não sei onde pus meu chapéu!?!
Talvez tenha esquecido sobre a cama
De alguma loira, morena ou cigana

Então, melhor ser breve com Morgana
Antes que essa mulata que me ama
Voluptuosa me ate, me maltrate, me mate
Na chama de suas sábias, salientes curvas
E não mais recupere o que a encanta:
A virilidade lasciva da chuva
No seio da mata virgem que alimenta suas plantas...

Reações

Seus sorrisos não fazem
Montanhas ruírem,
Não mostram o outro
Lado da vida;
Não corroem espadas de aço
Nem implodem edifícios,
Somente realizam químicas
Em meu peito
Que explodem os universos
Escritos pelos meus sonhos...

Apenas um Poema Inútil

Às vezes, me perco em pensamentos,
Choro entre papéis e canetas
Sentindo minha alma iludida;
O sofrimento que me implora
Por rimas perfeitas que aflorem minha vida;
Os meus olhos são cegos
Que vagam nas minhas memórias,
Minha boca é buraco que sepulta
Os desejos reprimidos
E quando nunca sei o que fazer,
Só sei que preciso rabiscar um pedaço de papel
Porque algo me corroe por dentro
E eu não consigo descrever...

A Chuva

Gota a gota cai o silêncio
De alturas impossíveis
O tamborilar de sentimentos
Em choques de nuvens,
Pássaros trovoadores
Na imensidão do horizonte
Lágrimas sensuais escorrem
Pelo dia cinza
A perfeição singela do sorriso
Que recorta o céu em descargas elétricas
Um coração traspassado
Tempestade de emoções
Ventania de insegurança e medo
Um olhar tempestivo
Repleto de segredos intocados
Num corpo selvagem
Mata virgem
Primitivo tilintar
De sussurros eloqüentes
Um cair de corpos em trovões
E relâmpagos de prazer intenso
Sibilar do vento a gemer
A transcrever
A penetração da água na terra
Fertilizando o solo árido
Umedecendo-o em íntimo inverter
De posições à brisa fogosa
Que em fagulhas banha a alma
E dá significados as frases, páginas
Que a chuva passa a escrever...

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Pedaços...

Sou uma flecha que rompe
O ar em transblanca parede
De solidão,
Sou um tiro no escuro
Da alma em disturbios que acalentam
Os sintomas da saudade que sinto,
Sou o sonho que plana pela neve vermelha de sangue que escapa
Do meu corpo suado cansado de tanto sangrar trabalho e esquecimento,
Sou o segundo de agora em rotação pelas ruas que desconheço
Os passos passados pela pegadas que não são minhas,
Sou o espaço sideral
Entre os umbigos dos casais
Que praticam o sexual eterno amor
Sou a conjunção dos átomos que se atropelam
Em órbitas que circundam as curvas do corpo da mulher que amo
E não me foi apresentada
Para que roubasse dela o primeiro último beijo
Sou o pedaço do pedaço da gota de lágrima que caiu
Do sorriso que me foi ofertado na vez primeira em que a vi
Passar pelos meus sonhos
Sou tudo isso e isso tudo sou o que sou,
Sou o esquecimento de mim mesmo, mesmo sendo o próprio eu no todo
Da parte que me lembrei de esquecer quando me percebi
Todo
Parte
Parte do todo
Eu em parte
Partido
Para todo sempre
Pedaços d´Eus...

domingo, 7 de setembro de 2008

Preocupações

Palavras sem ações
São apenas o vento
Assoviando na janela

Pensamentos

É preciso mudar o passado
Mudar o que não foi escrito
E o que escrito foi, apagar!

Mudar o curso da decisão de um olá
O sorriso e o pecado de um olhar
Morrer para ver o infinito

Cair do alto de um prédio para crescer
Estender a mão, sem mover os braços, para salvar
Dormir para viver e viver para sonhar

Uma vida a mudar
Uma caixa de Pandora para despertar
A mente é o caos do mundo

E as borboletas são as formas do enigma
E a vida é flor que murcha
Pois pensamentos são a devastação do homem...

A Festa da Loucura – Anônimo (versão de Alexandre Velho)

Numa bela tarde, a Loucura resolveu convidar seus amigos para tomarem um chá em sua casa. Como visitar a Loucura era sempre algo imprevisível e cheio de novas emoções, todos aceitaram.
A primeira a chegar foi a Pressa que, apressada em sair de casa, chegou a vestir um pé de cada calçado e uma meia de cor diferente da outra. Em seguida, chegaram os demais convidados e todos se sentaram à mesa para degustar o maravilhoso chá da Loucura.
Após tomarem o chá, a Loucura propôs:
- Vamos brincar de esconde-esconde?
- Que brincadeira é essa? – perguntou curiosa a Curiosidade.
- É uma brincadeira em que um conta até cem e os demais se escondem, e o primeiro a ser encontrado por aquele que estava contando, torna-se o próximo a contar. – Respondeu a sábia Sabedoria.
Todos gostaram da idéia de brincar de esconde-esconde e aceitaram participar, a exceção do Medo, que ficou com medo de não ser encontrado nunca, jamais, e preferiu ficar sentado tomando chá de Camomila para acalmar seus nervos nervosos.
- 1, 2, 3, 5 menos 1, 7 menos 2, 8 menos 3 mais 1... – Começou a contar a Loucura.
Mal a contagem se iniciou, a Pressa, apressadamente, saiu atropelando todo mundo e acabou por derrubar a Preguiça, que preguiçosamente ficou com preguiça de levantar-se e resolveu dormir ali mesmo. A Pressa, então, se escondeu no primeiro lugar que achou, bem ao lado do Desleixo, e ambos sequer perceberam que seus pés ficaram aparecendo por debaixo da cortina.
A Timidez, tímida como sempre, tapou-se de vergonha e resolveu esconder-se na copa da árvore mais alta. A Alegria, alegre como uma andorinha a voar, resolveu ficar a correr pelo jardim. A Inveja não pensou duas vezes e resolveu ficar embaixo de uma grande pedra, junto com o Triunfo. E a Tristeza começou a chorar, porque não encontrava nenhum lugar apropriado para se esconder.
O Desespero desesperou-se quando ouviu a Loucura gritando contar:
- Noventa e nove, cem! Aí vou eeeeuuuuu...
Quando a Loucura se virou para procurar seus amigos, acabou por tropeçar na Preguiça que preguiçosamente dormia feito um bebê a roncar.
- Ah, Preguiçaaaa. Não quiseste te esconder? – Perguntou a Loucura
Mas, a Preguiça, preguiçosa como sempre, não respondeu.
- Lá vou eeeeuuuu... – Gritou novamente a Loucura para avisar aos demais que agora ia sair a procurá-los.
Mal a Loucura terminou de gritar, apareceu a Curiosidade, que curiosa para saber quem seria o próximo a contar, não agüentou esperar e resolveu vir perguntar. Em seguida, veio correndo do jardim a Alegria, feliz da vida, porque ela não tinha sido a primeira a ser encontrada. A Tristeza veio logo atrás, chorando por não ter sido a primeira a ser encontrada, mesmo não tendo encontrado lugar algum para se esconder. E assim, um a um foram aparecendo os amigos da Loucura.
A Loucura ao olhar para o lado, ainda, avistou a Dúvida, em cima do muro, tentando decidir por qual lado ia descer. A Timidez quase morreu envergonhada quando a Loucura disse que ela já podia descobrir o rosto de vergonha e descer do alto da árvore.
Quando todos já estavam reunidos, a Loucura, doida e espevitada como sempre, percebeu que o Amor tinha sumido.
- Onde está o Amor? – Perguntou a Loucura.
Entretanto, ninguém o tinha visto. Então, a Loucura enlouquecida com a Preocupação, que não parava de falar em desgraças, resolveu ir sozinha procurar o Amor perdido.
A Loucura procurou em cima das montanhas, dentro dos rios e dos mares, no meio das nuvens, debaixo das pedras que haviam no meio do caminho, no meio da floresta e do algodão-doce. Mas, nada do Amor aparecer. Então, a Loucura resolveu pegar uma varinha de marmelo e cutucar uma roseira que havia em seu jardim para ver se encontrava uma onça com a vara curta.
Contudo, de dentro da roseira se ouviu um grito de dor:
- Aiiiiiiiiii!
Era o Amor. Ele gritou, porque ao ser cutucado com a vara curta da Loucura, acabou por furar os olhos nos acúleos das rosas da roseira.
A Loucura não sabia o que fazer ao ver o Amor machucado. Pediu desculpas, implorou pelo perdão do Amor, e prometeu que ia servi-lo e acompanhá-lo para todo o sempre e em todo e qualquer lugar aonde o Amor fosse.
O Amor, amável como sempre, aceitou as desculpas da Loucura.
Desde então até hoje, o Amor é cego e a Loucura sempre o acompanha!

domingo, 31 de agosto de 2008

Borboleta

Pemaneceste quinze anos em forma larval,
Três em gélida crisálida,
E agora tua metamorfose completa
A tornou vislumbrante e cálida borboleta!

Ignoro tuas idéias, senhorita butterfly
Prendo-me aos teus encantos
Enquanto prazerosos vôos me permites
Sobre teu corpo incandescente de mulher-menina

Te penetro o mistério
Em sonho ou em verdade
E teus fluidos aos meus, voluptuosos, se mesclam

Desoriento-me nas tuas sensíveis curvas
De estradas e montes mapeados por meus dedos
Atordoado admiro tuas partes, teus segredos, meu destino

Matas-me de prazer tal qual viuva-negra
A me devorar por madrugada a fio
Atas-me e me desatas em gemidos
Enlias meus sentimentos ao teu sexo

Consomes minha carne em teu fogo ardente
Envolves-me em tuas fortes flácidas flamejantes asas
Roubas-me o suspiro, o ar que respiro
E em devasso devaneio dantesco te mato

De satisfação em orgásmico amor profundo
Ofegante, mortas cai em sono singelo
Te admiro o frescor em nossa única noite...

Te tomo aos braços e deixo o lençol cair...
Ao raiar do dia, uma carta, sem data, um amor sem retorno
As borboletas deviam durar mais que um dia!

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Interior

Dentro dos poetas
Existe uma grande tristeza,
A tristeza de perceber e sentir
O que todos sentem sem perceber

Vazio

Vazio
É o peito em que
Fora arrancado de si
O amor que
Devera sentir
Em dia de sol
Frio
No espaço entre o que
Não há
E o que
Devera existir...

Amigos

Renato chateado com todas as bobagens que fiz
Me diz que sempre precisei
De um pouco de atenção
Que às vezes acho que não sei quem sou,
Mas sei do que não gosto
E nos dias tão estranhos
Manuel me convida para ir embora para Pasárgada
Lá que é outra civilização
Lá a existência é uma aventura
Mas Carlinhos, logo me liga dizendo que zombo dos outros, que amo, protesto
E agora?
Então Lulu crava sua prancha na areia,
Pega o violão e canta que vê a vida melhor no futuro
Que não consegue mais lembrar
De quantas janelas se atirou,
Assim me recordo do Andrew
Minha mente está mais clara agora...
Eu não gosto do que estou vendo
Tudo o que peço é que me dê atenção
E se lembre...
Do Miltinho,
Porque amigo é coisa pra se guardar
Debaixo de sete chaves
Dentro do coração...

Completude

Queria fazer um poema sem culpa
Fazer movimentos sintáticos sem semântica
Ser corpo sem pensamentos
E pensamentos sem o pensar

Um poema livre
De histórias e interpretações
Estar todo sem parte alguma
Nos lugares que inexistem

Poema sem linguagem
Linguagem sem motivação
Motivação sem motivo e ação

Sem símbolos, sem palavras
Apenas uma ausência
Um pleno universo...

Aprendizado

Se todos te falam
O que queres ouvir,
Como aprenderás a apreciar
O ouvir que não queres?

Perdas

Tenho meus dedos
Mas os anéis todos já me carregaram
Meu sorriso ainda permanece
Porque já perdi todas as lágrimas
Os caminhos certos foram os errados
Pois não sei onde foi parar a bússola do meu destino
Sozinho no mundo
Tal qual um andarilho que perdeu
Seus companheiros para esposas graciosas;
Sem mágoas, sem direção
Caminho
E se for para estar perdido
Que seja de amor pela vida...

Entardecer...

Eu caminhava pela rua
Quando me deparei comigo mesmo
Em diálogo com meu próprio destino

Então, um anjo tocou em meu ombro
E em silêncio me apontou o norte em minha própria
Estrada de equívocos

Chovia e meu rosto ficou manchado
De lágrimas que não eram minhas
Toquei carinhosamente em minha alva pele
E ouvi os sinos da igreja anunciando minha morte

Pensei estar sonhando, mas a dor não existia
A angústia desaparecera e a vida foi um sopro
Minhas pernas vergaram e caí tal qual uma folha de papel
Ao vento... O sol simplesmente desapareceu...

sábado, 23 de agosto de 2008

Silêncio

O silêncio é a palavra perfeita
Que se esqueceu
De acontecer

Perfil

Sou o dia de hoje que brilha mais intenso,
Sou o olhar e as frases de carinho e protesto dos meus alunos,
Sou o discurso do método que a todo instante se reconstitui,
Sou o amor da família e as gargalhadas dos meus afilhados,
Sou o amigo, o campanheiro fiel, o coração que acolhe aos que precisam de proteção,
Sou o profissional dedicado, o filho querido e o irmão de braço forte,
Sou o homem que pensa no amanhã quando olha para o horizonte,
Sou o intelectual e o bom papo de bar,
Sou o cinéfilo, o amante da música, das belas artes, da literatura e das fotografias que se espalham pelo quarto,
Sou o abençoado de Xangô e Iemanjá,
Sou a memória daqueles que partiram e não pude me despedir,
Sou o pedaço,
o cadarço,
a cor,
a cortesia da chuva que nutre o solo,
Sou o verso,
o reverso,
inverso,
imerso
No coração do mundo
E no silêncio da madrugada...

Leitura: uma obrigação, um prazer ou uma prática ao jovem contemporâneo

A modernidade tecnológica trouxe facilidades no campo das comunicações para todos nós. A cada segundo, somos bombardeados com informes, notícias, informações que podem ou não serem úteis num dado momento, porém os dados são tantos e tão variados que nossa capacidade de assimilação procura filtrar aquilo que nos interessa, e na maioria das vezes, de forma imediata, o que nos torna um tanto indolentes à prática de leituras clássicas e sadias.
Se para nós adultos, maduros e responsáveis é complicado nos dedicarmos a uma leitura clássica, devido à grande variedade de temas para ler, a uma rotina desgastante e a compromissos fatídicos que assumimos diariamente, além do acesso a uma grande quantidade de “informações” objetivas e simplificadas que nos tornam indolentes à prática de uma leitura densa e compromissada, como vê a leitura o nosso jovem, filho, aluno, já acostumado a esse processo frenético, desenfreado e midiático de receber informações?
O imediatismo do pensamento acelerado já tomou conta dos nossos alunos, das nossas casas, das nossas rotinas e se bobear até das nossas refeições, cada vez mais ricas em fast-foods. Perdoem-me a comparação, mas gosto sempre de equiparar a alimentação com a leitura, pois se somos o produto do que ingerimos por via oral, também o somos por via intelectual. Apreciar uma boa alimentação é tão importante ao corpo como apreciar uma boa leitura, uma vez que a nutrição sadia eleva as condições de funcionamento do corpo, um bom livro aumenta a capacidade de percepção, criação, raciocínio, intelecto, além de auxiliar na formação da identidade do indivíduo. Entretanto, da mesma forma em que, para se saborear uma boa comida, ela deve estar bem preparada, para se ler um bom livro clássico, o leitor também deve ser preparado para poder entendê-lo e apreciá-lo.
Contudo, o processo de leitura, ou o ensino do processo de leitura, não é algo fácil. É comum, o aluno ter a resistência inicial ao clássico literário; comentários como “lá vem aquele livro chato de novo!”, “prof, a gente não podia ler o livro da Bruna Surfistinha ou uma coisa do tipo?” são comuns. Isso acontece, dentre tantos motivos, também a uma carência de informações, já que os informes (pseudo-informações; nunca estão processadas, normalmente de cunho enfático e bombástico, utilizados pelos meios de comunicação de massas) não dão conta da totalidade que o jovem necessita e, ainda o tornam resistentes, pois ao tratar do assunto, o aluno se crê sabedor de tudo, e parar para desenvolver o tal assunto é, para ele, perder tempo. Instigar, provocar, questionar, normalmente, são boas saídas para quebrar essa barreira inicial imposta pelo jovem.
Após quebrar o muro de Berlim imposto pelo aluno ao livro clássico, surge outro problema: a leitura como obrigação e avaliação. Voltando ao nosso processo culinário, o jovem vê a leitura solicitada pelo professor como uma rúcula, uma alface ou um agrião. Ele sabe que esses vegetais fazem bem, mas se pudessem não comê-los seria bem melhor, afinal, nenhum deles tem gosto de chocolate e nunca vão ter, todavia um bom chef pode desenvolver um prato apetitoso em que esses ingredientes apareçam em certa quantidade, suficiente, para serem bem apreciados. O mesmo vale para a leitura, o professor, assim como os pais, devem propor eventos de letramento para os jovens, e isso não é tão difícil quanto parece. Basta comentar de maneira enfática sobre um dado livro tendo em vista o interesse do adolescente em questão, que ele já vai ficar interessado na obra, a contação de histórias é um outro excelente caminho, bem como estabelecer uma discussão sobre um tema que é proposto num livro em especial.
Assim, tornar a leitura obrigatória em um prazer é um processo que pode ser desencadeado por qualquer pessoa, pois somos curiosos por natureza. Se gosto de contos de fadas, por que não ler O Fantástico Mistério de Feiurinha, em que Pedro Bandeira trabalha com a desconstrução dos contos de fadas e propõe uma história interessante e moderna. Se gosto de contos, por que não ler os contos de Lygia Fagundes Telles, particularmente adoro Antes do Baile Verde, que reflete bem a questão das responsabilidades e como os jovens a encaram, e Venha Ver o Pôr-do-Sol, que possui um suspense que nos consome do início ao fim e nos aterroriza naquele “grito medonho, inumano: NÃO”. Se a poesia é o que me interessa, por que não ler os poemas concretistas dos irmãos Campos, ou os poemas de Fernando Pessoa que nos deixam perplexos e questionando tudo e todos, ou a poesia de Bocage. É claro que para isso, eu tenho que preparar o meu aluno, deixá-lo com a pulga atrás da orelha, apresentar para ele que muitos dos interesses que ele tem, estão ali esperando por ele, assim como mostrar para ele que ler um clássico não é como ler um Código da Vinci, pois o clássico exige a reflexão, e como diz Calvino: “um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer (...) que chegam até nós trazendo consigo marcas das leituras que precederam a nossa e atrás de si os traços que deixaram na cultura ou nas culturas que atravessaram”.
Quando a leitura passa a ser um prazer, ela se torna uma prática, e através dela se busca os temas e o que mais se deseja conhecer. E, mais uma vez voltando a nossa gastronomia, se temos o prazer de comer um cheese extremamente gorduroso e repleto de maionese, e o faço diariamente, meu corpo irá sentir os prejuízos disso numa possível intoxicação alimentar. Da mesma forma, se estou habituado a ler revistas de baixo teor informativo, livros de baixa qualidade literária (e de maneira alguma considero de baixo teor literário as subliteraturas dos Harry Potters, crônicas vampirescas de Anne Rice, os suspenses de Stephen King, Sidnei Sheldon ou Agatha Christie), as leituras superficiais e objetivas que propõem soluções mágicas e não instigam o processo reflexivo, mas a acomodação do pensamento, também estou sujeito a uma intoxicação intelectual.
Assim, a prática da intoxicação intelectual leva o jovem a se entregar horas a fio em frente ao computador para jogar joguinhos viciantes e, muitas vezes, violentos, perder a noção do tempo no orkut, chats, entre outros. Aí, quando o adolescente retorna ao ambiente, lembra do trabalho que tinha para fazer. Barbada! (pensa ele) basta copiar e colar, imprimir e pronto! Sequer leu o que imprimiu, sequer teve contato com aquele conteúdo intelectual que não lhe pertence, mas entrega ao professor como se lhe pertencesse. Afinal, para que ler, isso é tão chato, tem coisa melhor para fazer.
Por fim, entendo que a leitura é uma prática, é um processo, gostamos daquilo que entendemos, àquilo que somos realmente expostos e que nos faz sentido, do que nos é palpável, reconhecido e ao mesmo tempo diferente. Logo, a leitura é o alimento do intelecto e da alma. Dessa maneira, se apenas conheço a comida para intelecto fast-food, ela sempre será para mim a melhor. Agora, se for exposto a outras experiências intelecto-gastronômicas, talvez num primeiro momento estranhe, mas na medida que for apreciando essa culinária, não apenas para deixar o estômago satisfeito, mas para deliciar uma iguaria do saber, para aprender sobre uma cultura, para ter bons hábitos e para, simplesmente, nutrir o corpo e a mente, então realmente terei aprendido a ler, e a ler com sabedoria.